Desde 2014, pesquisadores do IF Baiano, em parceria com a UFRB, analisam causas, impactos e soluções para a desertificação na região da sub-bacia do Salitre, na Bahia.
A desertificação é um processo de intensa degradação das terras em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultado de variações climáticas e da ação humana. É exatamente essa situação que se observa às margens da sub-bacia do Salitre, um afluente do rio São Francisco localizado na região de Campo Formoso, Bahia.
Há mais de uma década, o problema é tema de pesquisas realizadas por professores e estudantes do IF Baiano, desenvolvidas no contexto do Mestrado em Ciências Ambientais, do Campus Serrinha, e em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). Os projetos contam com financiamento do IF Baiano, da Fundação de Amparo à Pesquisa na Bahia (FAPESB) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Os experimentos e discussões em torno do assunto têm feito parte da formação científica de estudantes do ensino médio ao doutorado, promovendo a vivência prática de soluções científicas.
Estas pesquisas, lideradas no IF Baiano pelos professores Alison Jadavi e Márcio Rios, resultaram em diversos estudos publicados em revistas nacionais e internacionais, oferecendo evidências sobre a erosão na região, os fatores que contribuem para a degradação do solo, os impactos socioambientais do problema e as possíveis soluções para a recuperação ambiental.
Atividades humanas aparecem como um dos desencadeadores da desertificação na região da sub-bacia do Salitre, a partir de exemplos como a construção de estradas não pavimentadas e o cultivo intenso de Agave sisalana (conhecido como sisal) em encostas íngremes, conforme aponta um dos estudos, publicado em 2020 na Revista Brasileira de Ciência do Solo. Experimentos também demonstraram que a erosão linear, caracterizada pela existência de ravinas e voçorocas, levou à perda de aproximadamente 450.000 m³ de solo em uma área de 2.000 hectares (aproximadamente 20km). Em outro estudo, de 2022, publicado no Journal of South American Earth Sciences, as pesquisas indicaram processos de erosão ocorrendo até 20 vezes mais rápido que a formação natural do solo.
Além das atividades humanas, fatores climáticos também influenciam a degradação. Em outro estudo, publicado na Revista Brasileira de Climatologia, os pesquisadores analisaram a caracterização das chuvas na região e apontaram que precipitações intensas em curtos períodos levaram a elevados índices de erosividade, contribuindo para o avanço da desertificação no médio curso do rio Salitre.


Exemplos de voçorocas, formações intensas de erosão do solo, observadas na região. Imagens: arquivo da pesquisa.
Além de impactos ambientais, como a perda de habitát para inúmeras espécies aquáticas, o processo de desertificação da região têm ocasionado a uma série de efeitos socioeconômicos para a população local. Com a ausência de fluxo hídrico no médio curso do rio Salitre, já não há mais água para usos domésticos e para a realização de atividades como pesca, irrigação e navegação. Além disso, “as plantações locais tornaram-se dependentes da chuva, e as pessoas, principalmente os jovens, estão migrando para outras regiões”, descreve o pesquisador e coordenador do Mestrado em Ciências Ambientais, Alison Jadavi.
“Muitas pessoas, quando olham para o rio São Francisco, pensam ser difícil aquele volume de água um dia não mais existir. Mas imagine a bacia do rio São Francisco como um corpo humano: o rio Salitre é uma veia deste corpo, que, devido ao assoreamento, pode definitivamente deixar de funcionar, enquanto a degradação das terras é uma ferida que poderá se expandir por todo o corpo”, ilustra Jadavi.
Por esses e outros motivos, a situação do rio Salitre revela um problema de suma relevância regional e científica, que serve de alerta. “Estamos tratando de um problema local, mas que serve de alerta para outros afluentes do rio São Francisco. É mais um importante rio do estado da Bahia que pode deixar de existir em um futuro próximo”, ressalta.
Partindo do mapeamento do problema e da identificação dos impactos da desertificação no médio curso do rio Salitre, os pesquisadores também passaram a desenvolver experimentos voltados para a recuperação ambiental da região, obtendo resultados positivos. Neste estudo de 2020, os cientistas demonstraram que o uso de técnicas conservacionistas do solo pode garantir produção vegetal na área, evitando a degradação das terras, impedindo o assoreamento do rio e permitindo a recuperação da área degradada.
Para isso, os pesquisadores testaram especificamente o uso de terraços, estruturas construídas no terreno para reduzir a erosão e aumentar a retenção de água. Durante dois anos, a equipe acompanhou as mudanças no solo, medindo características físicas e a umidade com o auxílio de sensores.
Os resultados indicaram que o terraceamento melhorou a retenção e a disponibilidade de água, além de favorecer propriedades físicas do solo, comprovando que a prática é eficaz e ecologicamente vantajosa para a recuperação de áreas degradadas às margens do rio Salitre.


Antes de depois dos experimentos de recuperação vegetal. Imagens: arquivo da pesquisa.
Com a interrupção do fluxo natural do rio, as cisternas de captação de água da chuva tornaram-se a principal fonte de água para produção vegetal na região.
Por isso, atualmente, os pesquisadores estão desenvolvendo estudos voltados a assegurar a suficiência do volume armazenado nas cisternas e implementar técnicas de conservação do solo nas áreas de plantio, com apoio do programa “Ciência da Mesa” da FAPESB, buscando soluções sustentáveis que unam produção agrícola e recuperação ambiental.
No vídeo a seguir, produzido pelo grupo de pesquisadores, com o fomento da Fapesb, é possível conhecer mais sobre o processo de desertificação e os experimentos realizados.
Confira ainda, os estudos já publicados sobre o processo de desertificação na região do rio Salitre.
Visite também a página do Mestrado em Ciências Ambientais do IF Baiano – Campus Serrinha, e conheça outros projetos e pesquisas desenvolvidas pelo programa.
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