Para estudantes de Institutos Federais, participar de Olimpíadas do conhecimento não é novidade. No entanto, essas competições são tradicionalmente dominadas por áreas como as Ciências Exatas e Naturais. Este ano, porém, surgiu uma novidade: a criação da Olimpíada Nacional de Filosofia (ONFIL). Dois alunos do IF Baiano, apaixonados por Filosofia, aproveitaram essa oportunidade e chegaram até a etapa nacional da ONFIL, realizada entre os dias 17 e 20 de outubro na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
David Oliveira, estudante do 3º ano do Curso Técnico Integrado em Agropecuária no campus Valença, destacou-se na etapa nacional, conquistando a medalha de prata, repetindo o feito da etapa regional, ocorrida em 28 de junho.
A ONFIL, criada em 2024 com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do CNPq, tem como objetivo promover a escrita de ensaios filosóficos em língua portuguesa e incentivar o interesse pela Filosofia entre os jovens. Além de David, a estudante Bianca Marjory, também do curso de Agropecuária, se classificou para a seletiva nacional da 33ª Olimpíada Internacional de Filosofia (IPO).
Bianca se destacou na etapa regional com um ensaio sobre o tema “A busca pela verdade”, uma questão que, para ela, é fascinante. “Optei por esse tema porque ele toca o núcleo da experiência humana: a constante procura por um sentido que atravessa desde os mitos fundadores até as religiões, filosofias, ciências e, mais recentemente, as tentativas de desvendar o real através da inteligência artificial”, explica.
Ela reflete sobre como o ser humano constrói narrativas, sistemas e tecnologias em busca de uma verdade que parece sempre escapar. Uma pergunta em particular a desafiou durante a escrita: “Será que encontraremos essa ‘verdade’ ou, talvez, seja sua própria ausência que nos impulsiona, moldando a maneira como damos sentido à nossa existência?”. Bianca conclui que essa busca não é tanto sobre encontrar respostas definitivas, mas sim sobre lidar com o desconhecido e tornar a jornada menos árida, mais significativa.
Para Bianca, a Olimpíada foi uma oportunidade de desenvolver habilidades críticas e reflexivas, que enriqueceram não apenas seu percurso acadêmico, mas também sua compreensão do mundo e de si mesma.
Quando perguntado sobre a importância de estudar Filosofia, David respondeu que esta não é uma resposta simples e que se ele apontasse um motivo, seria insuficiente. Ele poderia dizer que estudar Filosofia é importante, porque desenvolve o pensamento crítico, mas, para David, isso por si só não implica importância, ainda mais para quem não tem experiência com o assunto, para quem não exercita o pensamento crítico.
“Ou seja, o aluno que não sabe a importância de ter senso crítico não vai ouvir essa frase e pensar ‘acho que, agora, eu vou estudar filosofia’. O que eu penso é: Ok, qual a importância de estudar filosofia? No fim, sendo bem sincero academicamente falando… nenhuma, na verdade! (hahaha). Mas não digo isso querendo desvalorizar a área, muito pelo contrário!”. Para David, o mergulho na Filosofia não se dá por algum argumento que te convença da importância, se dá por paixão, quando você é envolvido por ela. “Portanto, a importância de estudá-la, num ponto de vista mais prático, não deve ser engessada num objetivo específico. Se estuda filosofia para interpretar o mundo, para capturar o inconcebível, para tornar-se sujeito… o que quer que seja que você estude na filosofia, te altera enquanto sujeito político, e se há interesse na mudança, que incentivemos, então, a criação de novos sujeitos políticos através dessa área do pensamento tão bonita”, argumenta.
David revelou que seu envolvimento inicial com a Filosofia ocorreu por querer impressionar pessoas que apreciavam o tema. No entanto, seu espírito questionador o levou a aprofundar-se cada vez mais. “Com o tempo, as questões que surgiam na minha vida só podiam ser respondidas pela Filosofia. Ela não se tornou apenas uma ferramenta para estudar o que me interessava, mas uma forma de ver o mundo, uma prática de vida.”
O professor Adelson Vieira, do campus Valença, foi essencial na preparação dos alunos para a ONFIL, incentivando-os a participar das competições. Segundo ele, o processo de preparação focou nas notas e observações obtidas na fase regional, buscando melhorar os pontos identificados nas redações dos ensaios filosóficos e seguir as orientações da organização da ONFIL. “O impacto da participação na ONFIL trouxe um novo olhar para o estudo da Filosofia e destacou o papel do IF Baiano, que ofereceu total apoio aos alunos durante todo o processo”, afirma Adelson. Ele acrescenta que, após as conquistas de Bianca e David, o interesse dos estudantes do campus pelas Olimpíadas de Filosofia cresceu significativamente.
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