Atividades online totalmente em Libras, tradução de conteúdos técnicos, comunicação mais acessível. Neste sábado, 26, Dia Nacional dos Surdos, apresentamos como o uso da Língua Brasileira de Sinais está sendo ampliado no IF Baiano.
Como seria para um falante nativo de língua portuguesa compreender informações técnicas complexas em uma língua com símbolos e gramática totalmente diferentes? Essa é uma dificuldade cotidiana vivida por estudantes surdos, que muitas vezes precisam acessar conteúdos em Português, sua segunda língua. Para eles, o caminho para o aprendizado seria muito mais fluido se pudessem contar com maior presença da Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante a formação.
No IF Baiano, iniciativas importantes estão sendo desenvolvidas no âmbito institucional, nos diversos campi, por meio dos Núcleos de Atendimento a Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) e motivadas por servidores, estudantes e profissionais da área com o objetivo de tornar o instituto cada dia mais bilíngue e inclusivo.
A tradução de materiais técnicos das disciplinas dos cursos do IF Baiano é uma dessas ações. O projeto, desenvolvido por uma equipe intercampi, com servidores da reitoria e dos campi Catu, Guanambi e Itapetinga até o momento, tem como objetivo a tradução para Libras de materiais técnicos (como apostilas e capítulos de livros). Nesta primeira e atual fase, estão sendo traduzidos materiais utilizados em disciplinas dos cursos de agroindústria, agropecuária e alimentos. A escolha prioritária por essas áreas se deu após um levantamento indicar que estes eram os cursos com maior quantidade de alunos surdos matriculados. Segundo o mapeamento da equipe, há 22 estudantes surdos hoje no IF Baiano.
A coleção já conta com 14 vídeos (traduções) dos materiais e palestras técnicas e está disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da plataforma Moodle. “De início, a intenção é que sejam disciplinas técnicas, mas, posteriormente, a gente vai atender outras disciplinas”, conta o tradutor e intérprete de Libras, Joatã Mota, integrante e um dos idealizadores do projeto.
O estudante surdo Lucas Pereira conhece bem a necessidade de ter os conteúdos didáticos em Libras. “Eu mesmo tenho preparado alguns vídeos, com a ajuda de intérprete, acompanhando a proposta dos professores. Com certeza eu quero ter materiais interpretados para Libras. Com variedade de temas. Eu preciso disso, me dá oportunidade de aprender mais”, ressalta.
A expectativa do projeto é agregar colaboradores de todas as unidades, aumentar o número de traduções e, posteriormente, abrir o acesso para estudantes de fora do IF Baiano também. “Por conta da fase de pandemia, a gente não está conseguindo vídeos com maior qualidade técnica. Então, por enquanto, [o conteúdo] está restrito. Mas a gente quer abrir isso de uma maneira que fique visível até para surdos da comunidade de fora do IF”, explica Mota.
Para a professora de Libras do IF Baiano, Renata Reis, ter os conteúdos em Libras permite aos estudantes aprender mais e melhor. “Os estudantes surdos necessitam ter aulas diferenciadas. Não adianta passar uma leitura em língua portuguesa, ou um vídeo simples em Libras. É muito mais. É ter uma adaptação ou uma estratégia para que os conteúdos interessantes possam entrar na mente dos estudantes, ter uma facilidade de aprendizagem”, esclarece a docente, que é surda e também integra o projeto, fazendo a revisão das traduções. Confira vídeo de apresentação do projeto.
Outro exemplo de iniciativa voltada a estudantes surdos é o projeto Comunicação Acessível. Realizado pelo Napne do Campus Uruçuca, o projeto conta com colaboradores dos campi Alagoinhas, Guanambi, Santa Inês e Itapetinga. Com o avanço da Covid-19, o grupo percebeu a necessidade de apresentar informações específicas sobre a pandemia, em Libras, à comunidade surda interna e externa do campus. Já foram produzidos diversos vídeos, como este, por exemplo, que apresenta termos técnicos sobre a Covid-19 em Libras.
Durante este mês, o grupo está promovendo lives com as temáticas do Setembro Azul (campanha em prol da visibilidade da Comunidade Surda Brasileira) e do Setembro Amarelo (campanha de prevenção ao suicídio) com palestras e discussões totalmente em Libras. “A gente tem ouvido muitos relatos dos surdos de como o projeto tem contribuído. Há muitos surdos com depressão, com questões psicológicas. E a gente tem visto esse retorno do projeto de forma muito positiva”, comenta a coordenadora do projeto, Sara Oliveira.
Ela também destaca que as atividades são importantes para envolver o surdo nos debates atuais e informá-los sobre seus direitos. “É mostrar que eles são capazes. A sociedade é que tem que se adequar. A sociedade que é deficiente, pois seus espaços não contemplam a acessibilidade para todos”, ressalta.
A próxima live do projeto será realizada neste domingo, 27, com o tema “A experiência da pessoa surda como docente ou estudante na universidade”, com transmissão no Instagram.
No Brasil, a Lei nº 10.436/2.002 é considerada um marco, ao reconhecer a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão e determinar o apoio na sua difusão e uso pelo poder público.
No IF Baiano, ações institucionais seguem em implementação para expandir o uso das Libras, a exemplo da presente elaboração de um processo seletivo para contratação de intérpretes de Libras que possa ser utilizado por todas as unidades. Também está em análise, junto ao CEPE e Conselho Superior, o regulamento das atividades dos intérpretes de Libras no IF Baiano. “Nós continuamos solicitando à Setec a autorização de mais vagas de terceirizados para cobrir os déficits que nós temos em alguns dos campi”, completa o reitor do Instituto, Aécio José Duarte.
O gestor também reconhece que o desafio é constante e que há muito ainda a ser feito. “O IF Baiano já está sendo reconhecido hoje, na maioria das unidades, como um ambiente que tem a possibilidade dos surdos estarem inseridos nas formações que a gente oferece. Isso já está bem patente e tem sido muito importante a despeito do que reza todas as normativas inerentes a essa questão. Realizar atividades formativas com efetiva inclusão é o que é mais difícil. E nisso, nós temos uma ajuda muito grande dos NAPNEs, de inúmeros servidores, e dos próprios intérpretes de Libras que nos fazem atentar para certos aspectos. Então, tem sido uma luta constante”, salienta.
“Entrar em uma instituição cada vez mais bilíngue é o sonho consumo de todos os surdos, por que isso é um progresso de acessibilidade”, pontua a professora de Libras, Renata Reis. “De acordo com Decreto 5626/2005, os surdos têm garantia de ter acessibilidade de comunicações e receber informações através da utilização de Língua Brasileira de Sinais.”
Nesse sentido, profissionais da área e pessoas surdas afirmam que ações coletivas, individuais e institucionais são fundamentais, assim como o maior reconhecimento da cultura da comunidade surda.
“Eles aprendem português, mas o português sempre vai ser uma segunda língua para eles. A língua nativa é a de sinais. É a língua que eles se expressam melhor, que retrata o pensamento deles, as expressões mais íntimas deles. E a língua de sinais também permite expressar coisas que a língua escrita não transmite. Então, é uma coisa intrínseca, cultural”, explica o intérprete e tradutor de Libras Joatã Mota.
Acessar o conhecimento em sua língua nativa é o que faz o estudante do curso de Licenciatura em Geografia, Everton Ferreira, aprender com muito mais qualidade. “Auxilia no meu aprendizado e desenvolvimento, principalmente porque me ajuda a conhecer melhor a vida, faz minha mente trabalhar, mudar para melhor. Me torna mais inteligente fazendo com que eu tenha uma visão mais ampla de tudo”, afirma.
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