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IF Baiano: caminhos para se tornar uma instituição bilíngue
Atualizado em 8 de fevereiro de 2023 às 11h53 | Publicado em 26 de setembro de 2020 às 06h00

Atividades online totalmente em Libras, tradução de conteúdos técnicos, comunicação mais acessível. Neste sábado, 26, Dia Nacional dos Surdos, apresentamos como o uso da Língua Brasileira de Sinais está sendo ampliado no IF Baiano.

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Versão em Libras desta reportagem.

Como seria para um falante nativo de língua portuguesa compreender informações técnicas complexas em uma língua com símbolos e gramática totalmente diferentes? Essa é uma dificuldade cotidiana vivida por estudantes surdos, que muitas vezes precisam acessar conteúdos em Português, sua segunda língua. Para eles, o caminho para o aprendizado seria muito mais fluido se pudessem contar com maior presença da Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante a formação.

No IF Baiano, iniciativas importantes estão sendo desenvolvidas no âmbito institucional, nos diversos campi, por meio dos Núcleos de Atendimento a Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) e motivadas por servidores, estudantes e profissionais da área com o objetivo de tornar o instituto cada dia mais bilíngue e inclusivo.

Conteúdos em Libras e mais aprendizado

A tradução de materiais técnicos das disciplinas dos cursos do IF Baiano é uma dessas ações. O projeto, desenvolvido por uma equipe intercampi, com servidores da reitoria e dos campi Catu, Guanambi e Itapetinga até o momento, tem como objetivo a tradução para Libras de materiais técnicos (como apostilas e capítulos de livros). Nesta primeira e atual fase, estão sendo traduzidos materiais utilizados em disciplinas dos cursos de agroindústria, agropecuária e alimentos. A escolha prioritária por essas áreas se deu após um levantamento indicar que estes eram os cursos com maior quantidade de alunos surdos matriculados. Segundo o mapeamento da equipe, há 22 estudantes surdos hoje no IF Baiano.

A coleção já conta com 14 vídeos (traduções) dos materiais e palestras técnicas e está disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da plataforma Moodle. “De início, a intenção é que sejam disciplinas técnicas, mas, posteriormente, a gente vai atender outras disciplinas”, conta o tradutor e intérprete de Libras, Joatã Mota, integrante e um dos idealizadores do projeto.

O estudante surdo Lucas Pereira conhece bem a necessidade de ter os conteúdos didáticos em Libras. “Eu mesmo tenho preparado alguns vídeos, com a ajuda de intérprete, acompanhando a proposta dos professores. Com certeza eu quero ter materiais interpretados para Libras. Com variedade de temas. Eu preciso disso, me dá oportunidade de aprender mais”, ressalta.

A expectativa do projeto é agregar colaboradores de todas as unidades, aumentar o número de traduções e, posteriormente, abrir o acesso para estudantes de fora do IF Baiano também. “Por conta da fase de pandemia, a gente não está conseguindo vídeos com maior qualidade técnica. Então, por enquanto, [o conteúdo] está restrito. Mas a gente quer abrir isso de uma maneira que fique visível até para surdos da comunidade de fora do IF”, explica Mota.

Para a professora de Libras do IF Baiano, Renata Reis, ter os conteúdos em Libras permite aos estudantes aprender mais e melhor. “Os estudantes surdos necessitam ter aulas diferenciadas. Não adianta passar uma leitura em língua portuguesa, ou um vídeo simples em Libras. É muito mais. É ter uma adaptação ou uma estratégia para que os conteúdos interessantes possam entrar na mente dos estudantes, ter uma facilidade de aprendizagem”, esclarece a docente, que é surda e também integra o projeto, fazendo a revisão das traduções. Confira vídeo de apresentação do projeto.

Debates atuais mais acessíveis em Libras

Outro exemplo de iniciativa voltada a estudantes surdos é o projeto Comunicação Acessível. Realizado pelo Napne do Campus Uruçuca, o projeto conta com colaboradores dos campi Alagoinhas, Guanambi, Santa Inês e Itapetinga. Com o avanço da Covid-19, o grupo percebeu a necessidade de apresentar informações específicas sobre a pandemia, em Libras, à comunidade surda interna e externa do campus. Já foram produzidos diversos vídeos, como este, por exemplo, que apresenta termos técnicos sobre a Covid-19 em Libras.

Durante este mês, o grupo está promovendo lives com as temáticas do Setembro Azul (campanha em prol da visibilidade da Comunidade Surda Brasileira) e do Setembro Amarelo (campanha de prevenção ao suicídio) com palestras e discussões totalmente em Libras. “A gente tem ouvido muitos relatos dos surdos de como o projeto tem contribuído. Há muitos surdos com depressão, com questões psicológicas. E a gente tem visto esse retorno do projeto de forma muito positiva”, comenta a coordenadora do projeto, Sara Oliveira.

Ela também destaca que as atividades são importantes para envolver o surdo nos debates atuais e informá-los sobre seus direitos. “É mostrar que eles são capazes. A sociedade é que tem que se adequar. A sociedade que é deficiente, pois seus espaços não contemplam a acessibilidade para todos”, ressalta.

A próxima live do projeto será realizada neste domingo, 27, com o tema “A experiência da pessoa surda como docente ou estudante na universidade”, com transmissão no Instagram.

Desafio institucional constante

No Brasil, a Lei nº 10.436/2.002 é considerada um marco, ao reconhecer a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão e determinar o apoio na sua difusão e uso pelo poder público.

No IF Baiano, ações institucionais seguem em implementação para expandir o uso das Libras, a exemplo da presente elaboração de um processo seletivo para contratação de intérpretes de Libras que possa ser utilizado por todas as unidades. Também está em análise, junto ao CEPE e Conselho Superior, o regulamento das atividades dos intérpretes de Libras no IF Baiano. “Nós continuamos solicitando à Setec a autorização de mais vagas de terceirizados para cobrir os déficits que nós temos em alguns dos campi”, completa o reitor do Instituto, Aécio José Duarte.

O gestor também reconhece que o desafio é constante e que há muito ainda a ser feito. “O IF Baiano já está sendo reconhecido hoje, na maioria das unidades, como um ambiente que tem a possibilidade dos surdos estarem inseridos nas formações que a gente oferece. Isso já está bem patente e tem sido muito importante a despeito do que reza todas as normativas inerentes a essa questão. Realizar atividades formativas com efetiva inclusão é o que é mais difícil. E nisso, nós temos uma ajuda muito grande dos NAPNEs, de inúmeros servidores, e dos próprios intérpretes de Libras que nos fazem atentar para certos aspectos. Então, tem sido uma luta constante”, salienta.

Por que uma instituição bilíngue?

“Entrar em uma instituição cada vez mais bilíngue é o sonho consumo de todos os surdos, por que isso é um progresso de acessibilidade”, pontua a professora de Libras, Renata Reis. “De acordo com Decreto 5626/2005, os surdos têm garantia de ter acessibilidade de comunicações e receber informações através da utilização de Língua Brasileira de Sinais.”

Nesse sentido, profissionais da área e pessoas surdas afirmam que ações coletivas, individuais e institucionais são fundamentais, assim como o maior reconhecimento da cultura da comunidade surda.

“Eles aprendem português, mas o português sempre vai ser uma segunda língua para eles. A língua nativa é a de sinais. É a língua que eles se expressam melhor, que retrata o pensamento deles, as expressões mais íntimas deles. E a língua de sinais também permite expressar coisas que a língua escrita não transmite. Então, é uma coisa intrínseca, cultural”, explica o intérprete e tradutor de Libras Joatã Mota.

Acessar o conhecimento em sua língua nativa é o que faz o estudante do curso de Licenciatura em Geografia, Everton Ferreira, aprender com muito mais qualidade. “Auxilia no meu aprendizado e desenvolvimento, principalmente porque me ajuda a conhecer melhor a vida, faz minha mente trabalhar, mudar para melhor. Me torna mais inteligente fazendo com que eu tenha uma visão mais ampla de tudo”, afirma.

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