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Ensino, Pesquisa e Extensão como instrumentos no enfrentamento ao racismo no IF Baiano
Atualizado em 21 de março de 2025 às 10h26 | Publicado em 21 de março de 2025 às 10h26
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No Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, celebrado em 21 de março, é fundamental refletir sobre o papel da educação no combate ao racismo. No Instituto Federal Baiano (IF Baiano), o tripé Ensino, Pesquisa e Extensão tem sido essencial para a construção de uma educação antirracista e para a valorização da cultura afro-brasileira. Professores e alunos compartilham, nesta matéria, experiências que mostram como essas áreas podem transformar realidades e enfrentar o racismo estrutural.
“Ensino, Pesquisa e Extensão como instrumentos de cidadania plena e enfrentamento ao racismo” também é o tema do V RENEABI (Reunião de NEABIs do IF Baiano), que acontecerá de 27 a 29 de maio em Salvador, reunindo todos os Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do IF Baiano na cidade, com transmissão online, mas também com atividades multicampi.

Ensino: A Lei 10.639 e o Combate ao Racismo no Campus Xique-Xique

A professora de Geografia, Shauane Itainhara Freire Nunes, e membro da Comissão Especial de Verificação da Autodeclaração Étnico-Racial e do Neabi do IF Baiano – Campus Xique-xique, destaca a importância da Lei 10.639/2003 como um marco nas políticas educacionais antirracistas. Promulgada em 2003, a lei tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas do país, desde o ensino fundamental até o ensino médio.”A lei viabilizou o avanço de práticas educacionais que repensam o currículo como base da ação pedagógica”, afirma. No Campus Xique-Xique, onde casos de racismo contra alunos negros têm sido recorrentes, a lei tem sido um instrumento crucial para promover a equidade e a inclusão.

Shauane relata que o campus enfrentou uma situação grave de discriminação racial, com uma estudante sendo alvo de ataques reiterados. “Esses atos violam a dignidade da vítima e afetam toda a comunidade escolar”, explica. A mobilização da comunidade e dos órgãos responsáveis foi essencial para garantir medidas de enfrentamento ao racismo. “Além das sanções, a escola tem um papel formativo que deve ser crítico diante de uma realidade desigual”, completa.

A professora ressalta a necessidade de construir protocolos de enfrentamento ao racismo e garantir ações pedagógicas contínuas. “O currículo e os planos de ensino devem aplicar as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que tratam da história e cultura afro-brasileira e indígena”, afirma. Para Shauane, ignorar a questão racial é ignorar a realidade do estado da Bahia, que tem a maior população negra e quilombola do país. “Práticas pedagógicas sozinhas não eliminam o racismo, mas são um passo essencial para a transformação”, conclui.

No IF Baiano, são ofertados cursos FIC de Letramento Racial e de Acompanhamento das Políticas de Ações Afirmativas e Constituição das Bancas de Heteroidentificação, além das pós-graduações lato sensu em História e Cultura Afro-brasileira e Indígena e em Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-Brasileira na Educação.

Pesquisa: Afrocentricidade e a Presença de Intelectuais Negros na Sociologia

No Campus Itaberaba, a professora Lívia Froes desenvolve um projeto de pesquisa com bolsistas do ensino médio para investigar a presença de intelectuais negros no ensino de sociologia. “O objetivo é fazer um levantamento bibliográfico de como professores utilizam autores negros em suas aulas”, explica. A pesquisa analisa relatos de experiência apresentados em dois congressos que focam no ensino de sociologia na educação básica: o Congresso Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais e o Encontro Nacional de Ensino de Sociologia na Educação Básica.

Lívia destaca que, embora o ensino superior já discuta autores negros, na educação básica esse debate ainda está engatinhando. “Quando me formei, não tive acesso a esses autores. Agora, estamos tentando suprir essa lacuna”, afirma. Lívia lamenta o epistemicídio que apagou da academia, durante muitos anos, as produções de intelectuais negros, mas olha para a pesquisa animada, ao perceber, mesmo sem ter analisado todos os dados que o cenário está mudando. A pesquisa abrange o período de 2020 a 2024 e, para a docente, tem sido desafiadora, mas gratificante. “É muito bom ver os estudantes se engajando e refletindo sobre a importância da representação negra na sociologia”, completa.

Um dos resultados esperados é a criação de cards informativos com biografias de intelectuais negros, como Lélia Gonzalez e Guerreiro Ramos, para inspirar outros professores. “A pesquisa é uma forma de questionar as estruturas racistas e propor novas formas de pensar a sociedade”, afirma Lívia.

Extensão: Jogos Africanos e Diálogo com Comunidades Quilombolas

A extensão também tem um papel fundamental no combate ao racismo. No Campus Itaberaba, a professora Suêde Santos Barbosa desenvolve um projeto que utiliza jogos africanos para o ensino da matemática. O projeto, que começou como uma atividade avaliativa, ganhou destaque e foi apresentado em eventos como o Dia de África na UNEB.“A sociedade, muitas vezes, associa a África a um passado colonial e de escravização, negligenciando sua diversidade cultural, inovações tecnológicas e intelectuais. A oficina contribui para romper essa visão eurocêntrica, destacando a presença histórica de sistemas sofisticados de raciocínio, estratégia e lógica nos jogos africanos”, afirma a professora. Além disso, o projeto está alinhado com a Lei 10.639/2003, promovendo a educação antirracista de forma prática e engajada.


A oficina não se restringe apenas ao aprendizado dos jogos, mas incentiva reflexões sobre como o racismo estrutural influencia a falta de reconhecimento da cultura africana no Brasil.  “A atividade de análise cultural e as discussões promovidas durante o jogo permite que os participantes questionem quais saberes são historicamente valorizados e quais foram marginalizados. Esse processo contribui para que os participantes compreendam que a produção de conhecimento africano não deve ser vista apenas como folclore, mas sim como parte essencial do patrimônio intelectual da humanidade”, afirma Suêde.

Os alunos Juan Matos de Oliveira Santos e Ana Luísa de Almeida Costa, do 3º ano de Agroindústria, participam ativamente do projeto. “Os jogos africanos são uma forma de valorizar a cultura africana e combater o epistemicídio”, afirma Juan. Ana Luísa destaca que o projeto ampliou seu repertório sociocultural. “Aprendi muito sobre a história e cultura africana, o que me ajudou até no Enem”, conta.

Outro exemplo de extensão é o trabalho do professor Raphael Rodrigues, do Campus Bom Jesus da Lapa, com a Comunidade Quilombola Pambú-Araçá. O projeto “Laboratório de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas” promoveu ciclos formativos para professores e lideranças quilombolas, culminando na produção de uma Cartilha Técnica de Extensão. “Território, memória e ancestralidade são temas essenciais para a identidade dessas comunidades”, explica Raphael.

Para o professor, as pesquisas e conhecimentos produzidos nos IFs, a formação continuada de docentes e lideranças locais e a transferência de tecnologias sociais quando chegam às comunidades, podem provocar mudanças significativas na qualidade de vida das pessoas. O professor destaca que o IF Baiano aprende muito com as comunidades tradicionais que que produzem conhecimentos valiosos, desde técnicas de cultivo até manifestações culturais. Para Raphael, a extensão é uma via de mão dupla: “Aprendemos muito com as comunidades e também contribuímos para o fortalecimento de suas lutas e seus direitos”.

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