“De início, o amor da Geografia me veiu
pelos caminhos da poesia.”
Guimarães Rosa.
No dia 29 de maio celebra-se o dia do geógrafx em referência à institucionalização da profissão do Geógrafx no Brasil, que se deu durante a década de 70. Mesma década em que os Geógrafos e Geógrafas brasileiros(as) reunidos em Fortaleza, no histórico Encontro Nacional de Geógrafxs (ENG) da AGB, de 1978, reivindicaram uma Geografia Nova, inspirados pelos ideais democráticos que emergiam no processo de reabertura que prenunciava o fim da ditatura militar no país.
Desde então, a AGB (Associação de Geógrafos Brasileiros) passou a considerar Geógrafxs todos os profissionais em Geografia, professores e estudantes (Geógrafxs em formação), democratizando assim a associação permitindo a todos voz e voto em suas assembleias. Dessa maneira, as três categorias: Profissionais, Professores e Estudantes, passaram a ser considerados Geógrafxs, formados ou em formação, sem distinção.
No mesmo período foi lançado o livro homônimo de Milton Santos, “Por uma Geografia Nova: Da crítica à Geografia a uma Geografia Crítica”, que juntamente com o clássico “A Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra” de Yves Lacoste, no qual o
autor Francês diferencia a Geografia praticada pelos professores, classificada como monótona, voltada a decorar nomes de rios, relevos, cidades e países, da Geografia dos Estados Maiores, verdadeiramente preocupada em conhecer o espaço, um poderoso
instrumento de poder e controle, irão trazer grandes transformações na teoria e na prática do fazer geográfico no Brasil e na América Latina, ressaltando a importância do Espaço.
Desde então, muitos geógrafos e geógrafas de todo o país passaram a se engajar em estudar o espaço e revelar a sua essência, que expressa na sua forma de apropriação, a desigualdade e injustiça espacial sobre a qual a nossa sociedade se ergueu. Temas como
desenvolvimento e subdesenvolvimento, questão urbana, questão agrária, passaram a fazer parte do universo de pesquisa da geografia brasileira.
Conhecer o espaço e saber nele se organizar é fundamental para poder transformá-lo, o desafio dos Geógrafos e Geógrafas continua sendo o de evidenciar a sua importância, sobretudo para aqueles que se tornam reféns do espaço, pois segundo Milton Santos “o
espaço é a morada do homem, mas também pode ser a sua prisão”. Conhecer o espaço e saber nele se organizar é fundamental para a formação cidadã, na qual os sujeitos sejam protagonistas da produção do espaço e não reféns.
Conforme Ruy Moreira, o Estado e o Capital se utilizam do conhecimento a respeito do espaço, para explorar turisticamente as paisagens, projetar grandes obras, explorar o que classificam como “recursos naturais” que são, na realidade, nossas riquezas naturais, como afirma o professor Carlos Walter Porto-Gonçalves. O espaço se torna, na mão destes agentes, um instrumento da acumulação do capital. Ruy Moreira, em seu artigo “A Geografia Serve para desvendar máscaras sociais”, afirma que “o capital descobriu o espaço geográfico. Resta saber quando o descobrirão os que se opõem à sua ditadura”. Acrescentaríamos aqui não somente aos que se opõem, mas aqueles que desta ditadura são reféns.
Guimarães Rosa revela que seu amor pela Geografia surgiu pelos caminhos da poesia, e sim, muitos de nós nos aproximamos da Geografia fascinados pela exuberância das paisagens e seus relevos, pelos mistérios da formação da terra, dos solos, das rochas, do clima, dos mares e dos rios, e continuamos a estudá-los, mas sem deixar de considerar como vem ocorrendo o uso e a apropriação desigual dessas riquezas naturais, o uso social, político e econômico desse bem comum, que é apropriado para interesses privados. Daí resulta a importância da Geografia para a promoção da cidadania.
Parabéns a todas e todos os Geógrafos e Geógrafas formados ou em formação, compromissados com a pesquisa, a extensão e o ensino dentro de uma concepção crítica, reflexiva, cidadã e transformadora! Sobretudo atualmente quando assistimos aterrorizados o crescente número de pessoas que, guiadas pela ignorância, pelo obscurantismo e pelo ódio, desprezam o saber e o conhecimento científico.
No dia 26 de maio de 2021 às 20h, a Coordenação do Curso de Licenciatura em Geografia do IF Baiano – Campus Santa Inês convida o Pr.Dr. Charlles de França, que é professor associado do Departamento de Geografia da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-FFP) que tem se dedicado a estudar a História do Pensamento Geográfico e Ensino de Geografia e desenvolveu sua tese de doutorado intitulada: A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB): origens, idéias, experimentações e transfomações – notas de uma história, para um diálogo a respeito da importância da AGB para a para as mudanças paradigmáticas na Geografia Brasileira e no Ensino de Geografia, com o tema: A AGB, a Geografia Brasileira e o Ensino de Geografia: Uma revolução no Pensar e no fazer das/dos Geógrafos/as pós-78.
A live poderá ser acessada pelo canal do YouTube da Coordenação do Curso no link: