Um livro técnico. Um manual com ciência e muitas histórias contadas. O produto caracterizador do bioma caatinga. O licuri retratado em imagens e palavras. Pesquisadores publicam o “Manual do Licuri” e trazem as relações entre a planta, seus usos, o povo, o cultivo, a conservação, a produção, o acesso, a educação do campo, as festas e as cantorias.
Assim, eles dizem: “A todos, nosso grito de guerra que tem nos impelido: ‘Nós é Nós, Licuri é Coco’, afinal somos também sertanejos e ‘o sertanejo é, antes de tudo, um forte’”. Os autores Aurélio José, Márcio Harrison e Josenaide Alves encerram a apresentação do texto acima na orelha do livro com uma fotografia deles, logo acima, ilustrando sorrisos sob a sombra do licurizeiro nas caatingas de Capim Grosso – BA.
Em quase cem páginas, o Manual contextualiza o leitor sobre terminologia, localização, botânica, relatos da comunidade, cultivo, variedades, agressões ambientais, legislação, políticas públicas, mamíferos e insetos associados, produção, manejo, boas práticas (coleta, beneficiamento e fabricação de produtos), atividades produtivas com os derivados, festas que valorizam a caatinga e o povo, educação do campo, receitas caseiras tradicionais e cantorias no trabalho das quebradeiras.
Em entrevista ao Blog Bem Baiano, Aurélio Carvalho (IF Baiano) e Márcio Harrison (Secretaria de Educação do Estado da Bahia – SEC) falam sobre a publicação, a ideia, o interesse pelo tema.
Bem Baiano – Este livro é o primeiro?
Aurelio Carvalho – Sim, é o primeiro. Sensação de compartilhar uma publicação que traz um esforço coletivo de colegas que vêm trabalhando o Semiárido e a palmeira Licuri (Syagrus coronata). É a riqueza do Sertão em foco, uma das poucas atividades sustentáveis no Semiárido, muitas vezes invisibilizado e desprezado oficialmente. Traz o diálogo, a academia, o campo, o ensino, a pesquisa e a extensão e teve o prefácio de duas das maiores autoridades da Agroegologia (Miguel Altieri, Universidade da Califórnia, EUA) e do estudo do Semiárido (Aldrin Marin, pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido – INSA).
Bem Baiano – Quando surgiu pela primeira vez a ideia do livro?
Aurelio Carvalho – Há mais de quatro anos, ao aprovarmos pelo edital do MEC/Proext o Programa Conca e o Manual para atender a questões e demandas que nos eram colocadas por técnicos da Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, quebradeiras-de-licuri e agricultores familiares camponeses de diferentes Territórios de Identidade baianos (Bacia do Jacuípe, Sisal, Vale do Jiquiriçá, Piemonte da Diamantina e Piemonte Norte do Itapicuru).
Bem Baiano – Por que o seu interesse pelo licuri?
Aurelio Carvalho – A Caatinga me fascina desde criança, pastoreando cabras e ovelhas, catando guabiraba, quebrando licuri, assim a agronomia entrou na minha vida, somente depois veio a academia. E o licuri me veio com os trabalhos desenvolvidos pelos agricultores na Coopes, nas EFA, junto com grandes parceiros Marcio Harrison (SBEE/SEC), Josenaide Alves (Coopes) que são autores também, o Marcio biólogo, da etno botânica e a Josenaide, com sua perspicácia para (re)inventar os sabores da caatinga.
Bem Baiano – O povo do Sertão foi referência. Então, como eles recepcionaram a notícia?
Marcio Harrison – Todos ávidos para conhecer e reconhecer. Por exemplo, o cacique Juvenal Payayá, de Utinga, levou um exemplar e tem ampliado o trabalho com o licuri em seu território. Associado a isso, tem a questão dos serviços ambientais, como a conservação da Arara-Azul-de-Lear, ainda em estado crítico de conservação.
Bem Baiano – Por que existir um capítulo que traga canções populares?
Marcio Harrison – Impregnado no licuri está o aspecto étnico, era usado em eras pré-colombianas. Portanto, falar de etnicidade é falar de cultura, daí veio a ideias. Como Josenaide já havia juntado estas canções a incluímos. Trata-se uma forma de linguagem que fala e divulga nosso licuri.
Bem Baiano – Como será a forma de distribuição do livro?
Márcio Harrison – Todos os campi do IF Baiano receberão dois exemplares. A venda está ocorrendo na livraria da editora da UEFS, na Cooperativa de Produtores do Piemonte da Diamantina (Coopes) em Capim Grosso e diretamente com os autores.
Bem Baiano – Internamente, como o tema é trabalhado com os estudantes (ensino, pesquisa e extensão) e quantos pesquisadores estão envolvidos?
Aurelio Carvalho – Entre os colaboradores, somam-se 14 bolsistas e 8 pesquisadores no total. A produção decorrente foi apresentada em mais de 15 eventos técnico-científicos, exposições e feiras na Bahia, no Brasil e na América Latina (Cuba, Colômbia e Paraguai), incluindo dois capítulos de livro e 23 trabalhos apresentados e publicados em anais, periódicos e revistas especializadas, além de várias disciplinas nos campos da agricultura e agroecologia nas pós-graduações do IF Baiano.
Sobre o Manual do Licuri: Está vinculado ao Grupo de Pesquisa e Estudos sobre Lavouras Xerófilas do IF Baiano, através do “Programa Conca: sustentabilidade, sabores e saberes da Caatinga” (Edital 001/2011 do MEC/Proext) e do Projeto “Licuri, tecnologia e Sustentabilidade nas Caatingas” pelo CNPq/Setec/MEC nº 17/2014 (Processo 468249/2014-1). Recebemos apoio de projetos de colegas como o Delfran Batista, através do Centro de Tecnologias Sociais do Semiárido (CVT/IF Baiano), e o Alisson Jadavi, através do Núcleo de Pesquisa e Extensão do Território do Piemonte da Diamantina (IF Baiano). Também envolveu várias organizações como a Coopes, a EFA de Jaboticaba (Quixabeira – BA), a Efase (Monte Santo-BA) e o PET-Engenharias/UEFS (Aurelio Carvalho/Marcio Harrison).
Fotografia: Aurelio Carvalho / Marcio Harrison / Áttema Editorial
“A Caatinga é impressionante pela sua biodiversidade, agrobiodiversidade, heterogeneidade de ambientes e ecossistemas e pela sociodiversidade de suas populações e povos tradicionais. Assim, sua conservação é estratégica para vários setores públicos e áreas do conhecimento como, por exemplo, as plantas endêmicas com propriedades medicinais importantes e relativamente pouco estudadas” – Aurelio Carvalho e Marcio Harrison
Importante Trabalho que deve ser mais divulgados em mais municípios onde a cultura do Ouricurijá ocupou destaque sendo hoje relegada a segundo plano, quando não abandonada comprometendo o Bioma com a sua extinção por mera ignorancia da sua importancia ambiental economica e cultural.
muito bom o seu artigo
oi gente
gostei muito desse site, parabéns pelo trabalho. 😉